Ceará
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Estado do Ceará | |
Lema: Terra da Luz | |
Hino: Hino do Ceará | |
Gentílico: cearense | |
Localização | |
- Região | Nordeste |
- Estados limítrofes | Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco |
- Mesorregiões | 7 |
- Microrregiões | 33 |
- Municípios | 184 |
Capital | ![]() |
Governo | |
- Governador(a) | Camilo Santana (PT) |
- Vice-governador(a) | Izolda Cela (PDT) |
- Deputados federais | 22 |
- Deputados estaduais | 46 |
- Senadores | Eunício Oliveira (PMDB) Tasso Jereissati (PSDB) José Barroso Pimentel (PT) |
Área | |
- Total | 148 920 km² (17º) [1] |
População | 2015 |
- Estimativa | 8 904 459 hab. (8º)[2] |
- Densidade | 59,79 hab./km² (11º) |
Economia | 2014[3] |
- PIB | R$ 126,054 bilhões (12º) |
- PIB per capita | R$ 14.255,05 (23º) |
Indicadores | 2010/2015[4][5][6] |
- Esper. de vida (2015) | 73,6 anos (14º) |
- Mort. infantil (2015) | 15,1‰ nasc. (17º) |
- Alfabetização (2010) | 82,8% (22º) |
- IDH (2010) | 0,682 (17º) – médio [7] |
Fuso horário | UTC−03:00 |
Clima | Tropical e semiárido As, Bs'h |
Cód. ISO 3166-2 | BR-CE |
Site governamental | http://www.ceara.gov.br/ |
A capital e município mais populoso é Fortaleza, sede da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Outras cidades importantes fora da RMF são: Juazeiro do Norte e Crato, na Região Metropolitana do Cariri; Sobral, na região noroeste; Itapipoca, na região norte; Iguatu, na região centro-sul; Aracati, na região do Vale do Jaguaribe; e Quixadá e Quixeramobim na região dos Sertões Cearenses.[10] Na RMF, cidades importantes como Caucaia, Eusébio, Horizonte, Maranguape, Maracanaú, Aquiraz e São Gonçalo do Amarante, sede do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, incrementam o Produto Interno Bruto cearense. O estado possui ao todo 184 municípios.[9]
É atualmente o décimo segundo estado mais rico do país e o terceiro mais rico do Nordeste. A capital, Fortaleza, é o município com o maior PIB do Nordeste, e o nono maior do país.[11] O Ceará apresentava, em 2010, a melhor qualidade de vida do Norte-Nordeste, segundo a FIRJAN,[12] além do segundo melhor Índice de Desenvolvimento Humano da região.[7] O Ceará abriga um dos maiores parques aquáticos da América Latina,[13] o Beach Park, na praia do Porto das Dunas, que recebe cerca de 1,3 milhão de visitantes por ano.[13] O estado também abriga o quarto maior estádio de futebol do Brasil, o Estádio Governador Plácido Castelo (Castelão), que tem capacidade para mais de 64 000 pessoas.
O estado é conhecido nacionalmente pela beleza de seu litoral, pela religiosidade popular e pela fama de ser grande berço de talentos do humor. A jangada, ainda comum ao longo da costa, é considerada um dos maiores símbolos do povo e da cultura cearenses.[14] O Ceará concentra 55% de toda caatinga do Brasil e é o único estado do Nordeste-Sudeste a estar completamente inserido na sub-região do sertão. Terra de José de Alencar, Rachel de Queiroz, Patativa do Assaré, Dom Hélder Câmara, Clóvis Beviláqua, Castelo Branco e de Padre Cícero, o "cearense do século".[15] O Ceará também revelou Chico Anysio, Renato Aragão e Tom Cavalcante, considerados os maiores humoristas do país;[16] atores e cineastas famosos como José Wilker, Gero Camilo, Luiza Tomé e Karim Aïnouz; além de nomes de destaque das ciências exatas, como Casimiro Montenegro Filho, Fernando de Mendonça, Maurício Peixoto, Cláudio Lenz Cesar, dentre muitos. O Ceará também é conhecido como "Terra da Luz", numa referência à grande quantidade de dias ensolarados, mas que, principalmente, remonta ao fato de o estado ter sido o primeiro da federação a abolir a escravidão, em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea. Por esse fato, o jornalista José do Patrocínio cunhou o título de "a terra da luz" ao Ceará.[17]
Etimologia
Jandaia, ou aratinga, ave que dá nome ao estado.
Embora o pensamento de José de Alencar acerca da origem do nome seja o mais sólido, João Mendes de Almeida Júnior o acusava de ser por demais poético em sua definição, "(...) mais consoante com o sentir de quem tão belamente descreve a sua terra natal como um país de primores, onde canta a jandaia nos galhos da carnaúba", e a classificava como carente de confirmação filológica. Mendes de Almeida lembrava, ainda, de alternativas a essa interpretação, como a de Senador Pompeu, que faz referência à junção de cemo-ará a partir de uma variante da língua tupi, cujo significado seria "rio nascente da serra", indicando o rio que nasce na Serra de Baturité e que desagua junto à Vila Velha, local onde foram lançados os primeiros fundamentos da capital cearense. Outra definição alternativa apontada por Mendes de Almeida é a de Antônio Bezerra, que afirma que o nome surgiu a partir das características da paisagem cearense, banhada pelo Oceano Atlântico e abundante de grandes tabuleiros costeiros e dunas, supostamente semelhante à paisagem dos "campos do continente negro", referindo-se à grande reginão desértica do Saara. Mendes de Almeida fez, também, uma apanhado de registros de expedições pelo território e de livros históricos, como os de Vicente do Salvador e Caspar Barlaeus, na busca de variantes da escrita de ceará, sem, contudo, achar nelas alguma pista para uma definição mais exata que a do autor de Iracema. João Brígido afirmava, ainda, que o nome do estado derivaria da corruptela de Siri-ará, também de raiz tupi, em alusão aos caranguejos brancos do litoral.[18]
História

Costa do Ceará em mapa de 1629, por Albernaz I.
A Capitania do Ceará foi doada em 20 de novembro de 1535 ao provedor-mor da Fazenda Real, Antônio Cardoso de Barros, subalterno de Fernão Álvares de Andrade e de D. Antônio de Ataíde. Em certo momento da história a Capitania do Ceará foi anexado a Capitania de Pernambuco. O desenvolvimento independente do Ceará aconteceu depois de sua desagregação de Pernambuco, em 1799,[19] e sua história foi marcada por lutas políticas e movimentos armados. Essa instabilidade prolongou-se pelos períodos do Império e da Primeira República, normalizando-se depois da reconstitucionalização do Brasil, em 1945.
Ceará pré-colonial
O Ceará era habitado ancestralmente por povos indígenas dos troncos Tupi (Tabajara, Potyguara, Tapeba, entre outros) e Jê (Kariri, Inhamum, Jucá, Kanindé, Tremembé, Karatius, entre outros), cujas tribos ainda hoje denominam vários topônimos no estado.[20] Estes povos negociavam produtos como tatajuba, âmbar e algodão bravo com os estrangeiros que aportavam nas costas cearenses antes da chegada dos exploradores do Império Português, em 1603, por meio do litoral. Os portugueses tentaram, a partir de 1603, estabelecer-se nas terras cearenses, mas, em decorrência da intensa resistência dos nativos e da falta de conhecimento sobre como sobreviver às secas, não obtiveram sucesso. A partir de 1654, com a saída dos holandeses, que dominaram a região em dois períodos históricos, e o enfraquecimento político dos povos indígenas locais, a colonização portuguesa começou a obter sucesso nesse território. Os esforços de povoamento objetivavam principalmente a vitória diante da resistência indígena e a garantia do domínio regional luso contra estrangeiros.Os navegadores espanhóis Vicente Yáñez Pinzón e Diego de Lepe desembarcaram na costa cearense antes da viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.[21] Pinzón chegou a um cabo identificado como Porto Formoso, que se acredita ser o Mucuripe, e Lepe, à barra do rio Ceará, em Fortaleza. A chegada de Pinzón ao Ceará é debatida e largamente defendida entre as possibilidades do controverso descobrimento pré-cabralino do Brasil.[22][23][24] Essas descobertas, contudo, não puderam ser oficializadas em decorrência do Tratado de Tordesilhas, de 1494.[25]
As terras equivalentes à Capitania do Ceará foram doadas a Antônio Cardoso de Barros na segunda metade do século XVI, porém, ele não se interessou em colonizá-las.[26] Os franceses, que já negociavam âmbar-gris, as tatajubas, a pimenta e o algodão nativo com os povos indígenas, foram os primeiros europeus a se estabelecerem no Ceará.[27] Em 1590, eles fundaram a Feitoria da Ibiapaba. Os holandeses também já negociavam com os nativos cearenses, a exemplo do capitão Jean Baptista Sijens, que esteve no Mucuripe em 1600.[28][29]
Entre 1597 e 1598, um ramo da etnia Potyguara que habitava a região ao redor do Forte dos Reis Magos, migrou e fixou-se na região entre as margens do rio Cocó e rio Ceará e nos sopés ao norte das serras de Pacatuba e Maranguape.[28]
Ceará Colonial
Exemplares de artefatos de povos indígenas típicos do Ceará, em gravura da Comissão Científica de Exploração.
Depois da partida de Pero Coelho, os padres jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira chegaram ao Ceará com o intuito de evangelizar os silvícolas. Avançaram até a Chapada da Ibiapaba, onde ficaram até a morte do padre Francisco Pinto. O padre Luís Figueira retornou a Pernambuco em 1608, sem grandes sucessos.[32]
Em 1612, nova expedição portuguesa foi enviada como parte dos esforços de conquista do Maranhão, então dominado pelos franceses. Fez parte desta jornada Martim Soares Moreno, que fundou o Fortim de São Sebastião, também na Barra do Ceará. Ao retornar, em 1621, encontrou o forte destruído, mas lançou as bases para o início da exploração econômica pelos portugueses e a convivência com os nativos.[33][34]
Os holandeses, já estabelecidos em Pernambuco desde 1630, tentaram invadir o Ceará em 1631, atendendo ao pedido das nações indígenas cearenses. A primeira tentativa de conquista holandesa, entretanto, fracassou. Em 1637, o território foi tomado pelos holandeses, graças um trabalho conjunto com os índios nativos, no qual os portugueses foram feitos prisioneiros e levados para Recife. Os holandeses estabeleceram-se e também chegaram usar o Ceará com ponto de apoio à conquista holandesa do Maranhão, em 1641. Nessa época de ocupação holandesa, entre 1637 e 1644, o forte da Barra do Ceará foi reformado, foi construído outro em Camocim, as pesquisas para a exploração das salinas foram feitas e, em 1639, George Marcgraf veio ao Ceará para uma expedição que se deu partindo do Fortim de São Sebastião e percorreu o oeste cearense até a região dos Inhamuns.[35] Os holandeses permaneceram no Ceará até 1644, quando Gedeon Morris e sua tropa, que retornavam das batalhas no Maranhão, foram mortos numa emboscada organizada pelos próprios índios. Com a emboscada de 1644, o Fortim de São Sebastião também foi destruído.
De 1644 até 1649, o Ceará foi administrado pelas etnias então existentes. A presença europeia só recomeçou ao fim desse período, depois de contatos e negociações feitas entres os nativos e Antônio Paraupaba em 1648.[36]
Com a chegada de Matias Beck, em 1649, o Siará Grande entrou num novo período histórico: na embocadura do riacho Pajeú, o Forte Schoonenborch foi construído, os trabalhos de busca das supostas minas de prata foram iniciados e os holandeses procuraram mais uma vez se estabelecer na região em parceria com os indígenas.[37]
Após a capitulação holandesa em Pernambuco, o forte foi entregue aos portugueses, que o rebatizaram de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, restabelecendo-se, assim, o poderio português no território.[38] Neste período, muitas das nações indígenas que apoiaram os holandeses, que não estavam protegidas pelo Tratado de Taborda, fugiram para o resto do Ceará, procurando refúgio das retaliações lusas.[39] Desta forma, o Ceará acabou sendo o centro de batalhas da Guerra dos Bárbaros.
Na continuação da colonização pelos portugueses,[33] a influência dos jesuítas foi determinante, resultando na criação de aldeamentos, como os de Porangaba, Paupina, Viçosa e outros, muitos deles fortemente militarizados, nos quais os indígenas eram concentrados para serem catequizados e assimilarem a cultura lusitana. Tribos tupis aliadas dos portugueses também se instalaram em vilas militarizadas na capitania. Dessas reduções, surgiram às primeiras cidades da capitania, como Aquiraz e Crato. O processo de aculturação, no entanto, não se deu sem grandes influências de crenças e costumes nativos. A intensa resistência levou a episódios sangrentos, destacando-se a Guerra dos Bárbaros, que se deu ao longo de várias décadas do século XVIII e que resultou na fuga dos habitantes da então capital, Aquiraz, em 1726, para Fortaleza, para a qual foi transferido tal título.[40]
Primeiro mapa de Fortaleza, de 1730.
As principais vilas da capitania da época charqueana eram Aracati, Crato, Icó e Sobral. A que mais ganhou destaque foi Aracati, devido ao comércio de couro e carne de charque. Entre os anos de 1750 a 1800, Aracati viveu seu apogeu,[42] mas, com uma grande seca na região entre os anos de 1790 e 1793, os rebanhos bovinos morreram e a produção de charque transferiu-se para o Rio Grande do Sul, que então assumiu a posição de abastecedor principal das outras regiões.
Capitania do Siará Grande
Mapa do Ceará no início do século XIX.
Em 1812, foi nomeado governador do Ceará o português Manuel Inácio de Sampaio e Pina Freire, o qual reuniu os literatos no palácio do governo e deu incentivo às artes e à urbanização da capital por meio dos projetos de Silva Paulet. No começo do século XIX, o Ceará conheceu diversos movimentos rebeldes, como a República do Crato, em 1813, e também influências da Revolução Pernambucana de 1817, além de movimentos de cunho republicano-liberal liderados pela família cratense dos Alencar. Tais movimentos foram reprimidos com dureza pelo governador provincial do Ceará, Inácio de Sampaio.[43]
Ceará no Império
Em meados de 1860, devido à Guerra de Secessão norte-americana, houve um surto de crescimento da produção do algodão. Tal florescimento não durou muito tempo, mas deu grande impulso à modernização da infra-estrutura da Província, como exemplo a criação da Estrada de Ferro de Baturité, inaugurada em 1873. Em 1877, tem início a chamada Grande Seca de 1877-1879, um dos mais severos períodos de seca prolongada da História Cearense,[46] levando à morte milhares de pessoas e acarretando emigração maciça de retirantes. Fortaleza recebeu uma população de fugitivos da seca quatro vezes maior que seu próprio contingente populacional.[47] Logo após, a produção da borracha explodiu na Amazônia, e muitos cearenses vítimas da seca migraram para esta região.[48]
Jornal abolicionista "Libertador" [49] de 25 de março de 1884.
Anos antes da proclamação da República, notabilizou-se a campanha abolicionista no Ceará, que logrou abolir a escravidão no estado em 25 de março de 1884, quatro anos antes da Lei Áurea, fazendo do estado o primeiro do Brasil a conseguir tal feito. O movimento contou com a participação de várias sociedades libertárias, inclusive a maçonaria, mas o maior destaque foi de Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, jangadeiro que impulsionou o abolicionismo ao comandar seus companheiros, em 1881, numa total recusa a transportar escravos para dentro ou fora da província.[17] A primeira cidade brasileira a abolir a escravatura foi Acarape, atual Redenção, em 1º de janeiro de 1883. Devido a isso, o Ceará recebeu a alcunha de Terra da Luz, de início por José do Patrocínio. A escravidão, que jamais fora dominante no estado, estava praticamente extinta nos anos de 1880, de forma que não houve resistência à abolição mesmo por parte da elite agrícola.
Primeira República e Estado Novo
Soldados das forças juazeirenses.
Começou a ganhar destaque a atividade dos cangaceiros, que, agindo em grupos organizados e promovendo saques em cidades e propriedades rurais, desestabilizaram o interior do Nordeste por décadas. A forte religiosidade popular e a grande miséria estimulavam uma profusão de líderes messiânicos e formas de fanatismo religioso. O cearense Antônio Conselheiro, de Quixeramobim, chegou a formar, na Bahia, o arraial de Canudos, cuja forte atração populacional e ideológica, contrária aos interesses da elite fundiária, deflagrou a Guerra de Canudos.[57] Isso, porém, não extinguiu a influência dos líderes religiosos.
Entre 1896 e 1912, a hegemonia política foi concentrada nas mãos do comendador Nogueira Accioly e de sua família, que estabeleceram uma poderosa oligarquia, cuja influência se estendia pela maior parte dos escalões do poder estadual. Em 1912, Accioly apontara como seu candidato Domingos Carneiro contra Franco Rabelo, representante da política do salvacionismo do presidente Hermes da Fonseca, gerando uma das mais conturbadas campanhas eleitorais do estado. Na Praça do Ferreira, a dura repressão policial a uma passeata de centenas de crianças em favor de Rabelo, que causou a morte de algumas delas e feriu outras, desencadeou uma revolta de três dias da população fortalezense, forçando o governador Accioly a renunciar seu mandato, evento conhecido como Sedição de Fortaleza. Franco Rabelo passou a governar o Ceará.[58]
A Rede de Viação Cearense surgiu em 1909 e foi federalizada em 1915 para ajudar no combate à seca.
Sobreviventes do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, um dos eventos mais cruéis da história cearense.
Diante disso, os campos de Concentração no Ceará que já foram usados na estiagem de 1915, foram recriados.[61][62] Conhecidos como Currais do Governo,[63] tinham como objetivo impedir que os retirantes que fugiam da seca e da fome chegassem às grandes cidades. A instabilidade política e social foi crescendo no Estado. Nos anos 1930, surgiu no Crato o movimento messiânico do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, liderado pelo beato José Lourenço.[64] Igualitária e agrária, a comunidade do Caldeirão perseguia a auto-suficiência, passando a ser vista pelo governo e pelos fazendeiros poderosos da região como uma má influência. Em 1937, o Caldeirão foi invadido e alvo de bombardeio aéreo, resultando no massacre de centenas de pessoas.
Após a Revolução de 1930, o Ceará passou a ser governado por interventores do Governo Federal.[65] Ascenderam duas organizações políticas que dominaram o cenário estadual: a Legião Cearense do Trabalho, com alegada influência fascista,[66][67] e a Liga Eleitoral Católica, fortemente religiosa, representante da elite tradicional e de grande apelo popular. Nos anos 1940, mais uma seca, em 1943, assolou o Ceará, e, com a Segunda Guerra Mundial e os Acordos de Washington, o governo de Getúlio Vargas incluiu o Ceará no seu projeto político. A instalação de uma base norte-americana em Fortaleza trouxe ideais democráticos e antifascistas que passaram a ser defendidos em várias manifestações. Sob uma forte propaganda governamental de migração e influência do SEMTA, cerca de 30 mil cearenses tornaram-se Soldados da Borracha, produzindo esse produto na Amazônia para abastecer os exércitos aliados.[68]
República Nova
Vista da atual sede do Banco do Nordeste, instalado em Fortaleza em 1954.
Durante a década de 1950 surgiram e se consolidaram vários dos maiores grupos econômicos do Ceará, como Deib Otoch, J. Macêdo, M. Dias Branco, Edson Queiroz e Jereissati. Paulo Sarasate foi o terceiro governador eleito no período. Ainda nessa década, tem início uma nova onda migratória para vários estados e regiões. Entre as décadas de 1950 e 1960, a população cearense passou de 5,1% para 4,5% do total da população brasileira.[70] Em 1958, foi eleito governador Parsifal Barroso, que teve a ajuda do governo federal para combater as mazelas decorrentes da seca daquele ano. Sua principal obra, o Açude Orós, foi inaugurado em 1961. Em Fortaleza, o Grupo Severiano Ribeiro inaugurou o Cine São Luis. Em 1962, foi criado o Banco do Estado do Ceará - BEC.[71]
Em 1963, Virgílio Távora foi eleito governador do Ceará, exercendo o mandato até 1966, mesmo com o início da ditadura militar, em 1964. Seu governo foi marcado pela criação do "PLAMEG I" - Plano de Metas do Governo - que buscou a modernização da estrutura do estado com a ampliação do porto do Mucuripe e a transmissão da energia de Paulo Afonso para a capital.[72] Foram criados e instalados, também, o Distrito Industrial de Maracanaú, a Companhia de Desenvolvimento do Ceará - CODEC e a Companhia DOCAS do Ceará. Com o AI-2, Virgílio aderiu à ARENA e seu vice, Figueiredo Correia, ao MDB.
Governo militar
Vista do litoral de Fortaleza na década de 1980, com destaque para o Monumento ao Interceptor Oceânico.
Durante o governo de César Cals, de 1971 a 1975, sucedeu-se o auge da repressão militar. Vários cearenses de esquerda estiveram envolvidos na Guerrilha do Araguaia.[74] Cals procurou governar tecnocraticamente, formando sua própria facção política e rompendo com Virgílio Távora. No mandato de seu sucessor, Adauto Bezerra, de 1975 a 1978, não aconteceram grandes mudanças. Adauto volta-se politicamente para o interior com a criação de uma secretaria de assuntos municipais e renuncia seu mandato para se eleger deputado federal. O vice-governador, Waldemar Alcântara, toma posse e termina o mandato.
Virgilio Távora retorna ao governo em 1979, sendo o último eleito indiretamente, e resgata seu primeiro governo com a criação do PLAMEG II. Estabelece o Fundo de Desenvolvimento Industrial para complementar o sistema de incentivos regionais à indústria, impulsionando uma industrialização muito concentrada na Região Metropolitana de Fortaleza.[75] Criou-se o PROMOVALE, um grande projeto de irrigação, e sua esposa, Luiza Távora, programou projetos sociais como a Central de Artesanato do Ceará. Seu governo foi marcado pela ausência, quase que total, de oposição na Assembleia, nomeações aproximadas de 16000 pessoas para cargos públicos e várias greves. Em 1983, Gonzaga Mota foi eleito pelo voto popular, rompendo com os coronéis anteriores para criar seu próprio grupo político. Seu rompimento rendeu-lhe ataques do regime militar, com a suspensão de verbas federais.
Nova República
A Nova República coincide no Ceará com a eleição de Maria Luiza Fontenele para o cargo de prefeita de Fortaleza em 1985. Foi a primeira prefeita de uma capital eleita pelo Partido dos Trabalhadores e a primeira mulher a ser eleita para esse cargo após o regime militar do país. A insatisfação com a política praticada durante a ditadura militar e o movimento de redemocratização impulsionaram as transformações no poder político, com a decadência da hegemonia tradicional do coronelismo.[76]
Gonzaga Mota deixou o governo com pagamentos atrasados ao funcionalismo e descontrole nas contas públicas.[77] Rompido com os antigos aliados, Mota, junto com partidos de esquerda e o PMDB, apóia a candidatura oposicionista liderada pelo jovem empresário Tasso Jereissati, que conseguiu se eleger com a promessa de modernizar a administração pública e as finanças, combater o clientelismo dos governos anteriores, moralizar a administração pública e desenvolver a economia estadual. A nova gestão se autodenominou como Governo das Mudanças.[78] Nas duas décadas seguintes, o projeto avançou com a eleição de Ciro Gomes, seguida de um segundo mandato de Tasso Jereissati. Com a instituição da reeleição no país, Tasso ainda governou o Estado pela terceira vez, tornando-se o primeiro político brasileiro a conseguir tal feito em mais de 100 anos de história republicana.[76] Nas duas décadas seguintes, Jereissati e seus aliados passaram a deter a hegemonia política no Estado, e rapidamente perderam a aliança com partidos mais à esquerda.[76] Ciro Gomes, então prefeito de Fortaleza, se candidatou e foi eleito em 1990 para o cargo de governador, apoiado por Tasso.
Os Governos das Mudanças priorizaram o aumento das receitas, visando a investimentos públicos e privados em infra-estrutura e nos setores industrial e de serviços, enquanto o agropecuário permaneceu à margem. Politicamente, houve uma relativa diminuição de poder dos coronéis, com ampliação do poder do grande empresariado. O saneamento das contas estaduais - atingido, em parte, pelo propósito de diminuir as despesas através de reformas administrativas e financeiras, bem como de demissões e achatamento salarial no funcionalismo público - garantiu superávits entre 1988 e 1994, mas, com a consolidação do Plano Real, volta-se a uma predominância de déficits.[77]
Tasso foi eleito novamente em 1994 e reeleito em 1998, concentrando os esforços governamentais em grandes obras, como o Porto do Pecém, o novo Aeroporto Internacional de Fortaleza, o Açude Castanhão, o Centro Cultural Dragão do Mar e o Canal da Integração. O terceiro Governo das Mudanças, de 1994 a 1997, caracterizou-se pela privatização de algumas empresas estatais e extinção de órgãos, enxugando a máquina, reformando a previdência estadual e dando maior racionalidade aos gastos públicos.[77] Lúcio Alcântara, eleito com o apoio de Tasso, continuou, em linhas gerais, o modelo político anterior, mas não conseguiu se reeleger em 2006, quando rompeu com o PSDB, posteriormente mudando para o Partido da República. Cid Gomes, do PSB, ex-prefeito de Sobral e aliado histórico de Tasso, venceu a disputa, com o apoio do Partido dos Trabalhadores, que, em Fortaleza, já havia vencido com Luizianne Lins, eleita em 2004 mesmo sem apoio real do partido, o qual, devido às alianças partidárias nacionais, apoiou o candidato Inácio Arruda, do PCdoB.[79] Em 2008, Luizianne Lins foi reeleita.
O Estado se beneficiou também da guerra fiscal, que então se iniciava, o que, somada à mão-de-obra barata, atraiu várias indústrias, as quais se concentraram em algumas poucas cidades. O crescimento médio do PIB, de 4,6%, foi superior à média nacional e nordestina nos anos 1990, continuando a tendência iniciada na década de 1970.[80] As ações do governo, aliadas aos esforços do empresariado local e os incentivos de instituições de grande importância na história econômica recente do Ceará, como o BNB e a Sudene, foram determinantes para tal desempenho.
O forró eletrônico se popularizou na década de 1990, e o Ceará começou a despontar, seguindo a tendência do litoral nordestino, como grande polo do turismo brasileiro. Ao longo dessa década, com ações como o Programa de Saúde da Família (PSF), o Estado também realizou grandes avanços na redução de índices como a mortalidade infantil. A migração em direção a Fortaleza seguiu forte.[81] A segurança pública tornou-se muito mais problemática entre 1990 e 2003, com a taxa de homicídios subindo de 8,86 para 20,15 por 100 mil habitantes.
Apesar de vários avanços na saúde e educação básicas e do crescimento econômico estável, a chamada Era Tasso não alterou a estrutura socioeconômica problemática do Ceará, em especial a concentração de renda,[76] que piorou entre 1991 e 2000,[82] a má distribuição fundiária e a enorme disparidade regional, sobretudo entre a capital e o interior. Em 1999, segundo o Banco Mundial, metade dos cearenses viviam abaixo da linha de pobreza.[77] No início do século XXI, consolidou-se a tendência de queda na tradicional emigração de cearenses, que, no período 2001 a 2006, reverte-se para um saldo positivo de 38,3 mil pessoas, o que se atribui à melhoria das condições de vida e à maior estabilidade proporcionada por programas sociais, que permitiram a fixação do povo pobre em sua terra e o retorno de parte dos emigrantes.[83]
Geografia

Vista da Chapada do Araripe a partir do seu sopé no Crato.
O estado está no domínio da caatinga, com período chuvoso restrito a cerca de quatro meses do ano e alta biodiversidade adaptada.[85] O estado é, ainda, o único a estar completamente inserido na sub-região do sertão. A sazonalidade característica desse bioma se reflete em uma fauna e flora integradas às condições semiáridas. Consequentemente, há grande número de espécies endêmicas,[86] sobretudo nos brejos e serras, isolados pela caatinga, e refúgios da flora e fauna de matas tropicais úmidas.[87] Na Serra de Baturité, por exemplo, 10% das espécies de aves são endêmicas. O soldadinho-do-araripe foi descoberto em 1996 na Chapada do Araripe e só é encontrado nessa região. Dentre as aves, são ainda característicos o uirapuru-laranja e a jandaia. Destacam-se, na flora cearense, a carnaúba, considerada um dos símbolos do estado e também importante fonte econômica, e a zephyranthes sylvestris, flor original do habitat cearense.
Enquanto as chapadas e cuestas são de origem sedimentar, as serras e os inselbergs que abundam em meio à Depressão Sertaneja são de formação cristalina. Dentre os relevos sedimentares, a Chapada do Araripe, com altitudes que vão de 700 m até mais de 900 m, e a Serra da Ibiapaba, com altitude média de 750 m, possuem altura suficiente para permitir a ocorrência frequente de chuvas orográficas, o que lhes confere maior pluviosidade, bem mais intensa do que na Depressão Sertaneja, e variam de 1000 mm a mais de 2000 mm anuais.[90] Por outro lado, a Chapada do Apodi, com altitude não maior que 300 m, possui características semiáridas como predominantes.
Dentre as serras de origem cristalina, as que têm de 600m a 800m de altitude média, caso do Maciço de Baturité, da Serra da Meruoca e da Serra de Uruburetama, também são favorecidas pelas chuvas orográficas, proporcionando o surgimento de vegetação tropical densa, chuvas mais frequentes e maior umidade, em especial na sua vertente de barlavento. Em Catunda, na Serra das Matas, encontra-se o ponto mais elevado do estado, o Pico da Serra Branca, com 1 154 metros.[91] Nas serras pouco elevadas, surge vegetação semelhante às das vertentes de sotavento das serras úmidas, isto é, uma vegetação similar à caatinga, porém muito mais densa e com distinções na fauna e flora, conhecida como vegetação de mata seca.
Existe ainda o carrasco, vegetação xerófila peculiar, que surge no reverso da Chapada da Ibiapaba e do Araripe, áreas mais secas, caracterizando-se por uma flora arbustiva e arbórea predominantemente lenhosa, ao contrário da caatinga. O carrasco distingue-se ainda da caatinga pela quase inexistência de cactos e bromeliáceas. Alguns estudiosos se referem a essa vegetação como uma espécie de transição entre o cerrado, a floresta tropical e a caatinga.[92]
Hidrografia
Ver também: Lista de rios do Ceará
O Rio Jaguaribe, com 633 km de extensão, é o principal rio cearense. Na foto, trecho do rio na cidade de Fortim.
As outras bacias cearenses são a do rio Acaraú, com um dos maiores reservatórios do estado; do rio Banabuiú; do rio Coreaú; do rio Curu; bacia do litoral, que drena boa parte da costa norte e oeste, na qual os principais rios são Aracatiaçu, Aracatimirim, Mundaú e Trairi; da Região Metropolitana, na qual os principais rios são Ceará, Cocó, Pacoti e Choró; da Serra de Ibiapaba; do rio Parnaíba e a do rio Salgado.
O estado tem 92,99% de seu território dentro do polígono das secas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).[97]
Litoral
Ver também: Lista de praias do Ceará
O Ceará possui uma das maiores e mais importantes faixas litorâneas do país do ponto de vista turístico,[98] que se estende por 573 km, nos quais predominam os mangues e restingas, vegetação litorânea típica, além de áreas sem vegetação recobertas por dunas.[99] Mesmo com altitudes muito pouco elevadas, a pluviosidade e a umidade são maiores que na Depressão Sertaneja.
As temperaturas médias variam de 22 °C a 32 °C. A planície litorânea
possui geografia diversificada, o que faz com que o estado possua muitas
praias com coqueirais, dunas, barreiras
(também chamadas falésias) - paredões sedimentares que acompanham a
faixa da costa e, em alguns trechos, possuem tons coloridos - e áreas
alagadas de manguezal, nos quais há grande biodiversidade.As praias mais famosas do Ceará são a Praia de Jericoacoara, a Praia de Canoa Quebrada e a Praia do Porto das Dunas, as quais se destacaram por terem alcançado fama internacional. Regionalmente, outras praias de destaque são a Praia das Fontes, Morro Branco, Icaraí, Presídio, Baleia, Flecheiras, Cumbuco, Ponta Grossa, Lagoinha e Barra do Cauipe. O litoral cearense é atravessado por duas rodovias, chamadas de Costa do Sol Nascente e a Costa do Sol Poente, que, a partir de Fortaleza, direcionam-se para o litoral leste e oeste, respectivamente.[100]
Proteção ao meio ambiente
Parque Nacional de Ubajara possui um passeio de teleférico por uma depressão de mais de 500 metros.
O Governo do Ceará mantém 13 áreas de conservação. O Parque Ecológico do Cocó e o Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio são os parques estaduais do Ceará. O Parque do Cocó, o primeiro a ser criado, em 1989, em Fortaleza, é um dos maiores parques urbanos da América Latina e abriga o bioma de mangue. Já Pedra da Risca do Meio, criado em 1997, está localizado a 18 quilômetros da orla do Mucuripe, abriga grande diversidade de peixes e corais e é considerado uma das melhores áreas de proteção para a prática de mergulho no país.[103] Em todo o Ceará existem 58 áreas de proteção ambiental, das quais 20 são estaduais, 11 federais, 13 municipais e 14 particulares.[104]
Os ecossistemas do estado estão profundamente danificados e muito pouco preservados.[105] As regiões de floresta tropical e cerrado, nas serras e chapadas de elevada altitude, possuem grande concentração demográfica, intenso uso para fins agropecuários e, comparativamente, pouca preservação e fiscalização ambiental. Os crimes ambientais são praticados constantemente em áreas como a APA Araripe - sobretudo as queimadas e retirada de lenha - e não podem ser reprimidos devido ao parco efetivo de fiscais, dentre outros motivos.[106] Atualmente a mata atlântica ocupa apenas 1,2% do território estadual, tendo sido bem mais extensa no passado, mas 44% do restante está em áreas de preservação, o que, porém, não tem garantido sua total conservação.[107]
Em situação ainda mais grave está a extensa caatinga cearense, que conta com uma ínfimos 0,45% de preservação, embora represente, em suas variadas formas, 92% do território estadual.[108] 80% da caatinga cearense está devastada,[109] e muitas das áreas restantes, apesar de aparentemente conservadas, não passam de formas vegetais secundárias menos ricas e alteradas pela substituição de espécies vegetais, o que acarreta graves prejuízos para o solo e os já escassos recursos hídricos. A desertificação avança no estado e atinge níveis preocupantes, sobretudo em Irauçuba.[110]
Clima
Palmácia, município com clima serrano,destaca-se como um dos municípios com maior potencial para o ecoturismo e turismo de aventura no Brasil.[111]
Em todo o estado, os dias mais frios ocorrem geralmente em junho e julho e os mais quentes, entre outubro e fevereiro.[90] Nas áreas serranas, onde impera o clima tropical semiúmido e, em altitudes mais elevadas, úmido, as temperaturas são mais baixas, com média de 20 °C a 25 °C,[90] com mínimas anuais muitas vezes alcançando entre 12 °C e 16 °C.[113] Surgem aí vegetações de cerradão e floresta tropical, e as pluviosidades são mais altas, superando os 1 000 mm. Essas áreas contêm mananciais que banham os sopés dessas regiões, tornando-os propícios à atividade agrícola. É nas serras e próximo a elas, assim como nas planícies aluviais, que se concentra a maior parte da população do interior cearense, com densidades superiores a 100 hab./km², por exemplo, em boa parte do Cariri cearense.[115]
No litoral, o clima tropical subúmido possui pluviosidades normalmente entre 1 000 mm e 1 500 mm. As temperaturas são bastante elevadas, com médias de 26 °C a 28 ºC, mas a amplitude térmica é bastante pequena.[90] No geral, as temperaturas variam, durante o dia, de mínimas de 23 °C-24 °C até máximas de 30 ºC-31 °C. É raro as temperaturas ultrapassarem os 35 °C na região litorânea, ao contrário do que ocorre no Sertão cearense.
Secas
Vítimas cearenses das secas de 1877/1879, a mais grave da história do estado.
Durante as décadas seguintes, até 1877, o Ceará viveu relativa tranquilidade, sem estiagem, até que naquele ano e nos dois seguintes uma grande seca prejudicou fortemente a agropecuária no estado.[117] No início dessa, o senador Tomás Pompeu de Sousa Brasil publicou o primeiro livro sobre esse problema climático, intitulado "O clima e secas no Ceará". Nessa época, foi iniciada a construção do Açude do Cedro, em Quixadá, o primeiro do país, como medida para minimizar a falta de água, mas a obra só foi finalizada na Primeira República.
Parede do Açude do Cedro e, ao fundo, a Pedra da Galinha Choca.
Atualmente, existem muitos órgãos do governo cearense voltados para a problemática do clima. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos juntamente com a Superintendência de Obras Hidráulicas são os órgãos que fazem a gerência de várias barragens e o planejamento de adutoras e canais. A Fundação Cearense de Meteorologia é a responsável pelo monitoramento climático. Finalmente, o órgão central é a Secretaria dos Recursos Hídricos, que faz toda a estruturação de metas e planos para combater a seca no Ceará.[119]
Demografia
Crescimento populacional | |||
---|---|---|---|
Censo | Pop. | %± | |
1872 | 721 686 | ||
1890 | 805 687 | 11,6% | |
1900 | 849 127 | 5,4% | |
1920 | 1 319 228 | 55,4% | |
1940 | 2 091 032 | 58,5% | |
1950 | 2 695 450 | 28,9% | |
1960 | 3 337 856 | 23,8% | |
1970 | 4 491 590 | 34,6% | |
1980 | 5 380 432 | 19,8% | |
1991 | 6 362 620 | 18,3% | |
2000 | 7 418 476 | 16,6% | |
2010 | 8 452 381 | 13,9% | |
Fonte: IBGE[120] |
Segundo estimativas do IBGE em 2014, a população cearense era de aproximadamente 8 842 791 habitantes, o que conferia ao estado uma densidade de 56,76 hab./km².[2] Há forte concentração populacional na microrregião de Fortaleza, que inclui municípios da Região Metropolitana de Fortaleza, com 3.255.701 habitantes; na do Cariri, com 519.055 habitantes; e na de Pacajus, com 98.390 habitantes. Somadas, possuem 7.875,767 km² (5,3% do total) e 3.873.146 habitantes (46% do total) o que lhes confere uma densidade populacional de 491,78 hab./km².[2]
As cidades mais povoadas do Estado estão nessas regiões: Fortaleza (8.001,4 hab./km²), Maracanaú (1.908,2), Juazeiro do Norte (1.005,1) e Pacatuba (542,5), respectivamente.[122] Entre 1998 e 2008, persistiu a concentração da população na Região Metropolitana de Fortaleza, que cresce a ritmo mais acelerado que a média estadual (1,75% contra 1,25%, respectivamente).[123]
A transição demográfica tem ocorrido rapidamente no estado: a taxa de natalidade, que nos anos 1970 era bastante alta, caiu para 17,96‰ em 2008, e a taxa de mortalidade nesse ano estava em 6,41‰. A taxa de fecundidade em 2009 foi de 2,15 filhos por mulher, ligeiramente acima da taxa de reposição da população, o que representou um aumento em relação a 2008, fazendo o Ceará apresentar uma taxa superior à média nordestina.[6] A taxa de crescimento demográfico caiu de uma média de 2,6% na década de 1950 para 1,73% durante os anos 1990. Com a transição demográfica em curso, a proporção de idosos no conjunto da população aumentou de 2,4% em 1950 para 6,72% em 2004, e já em 2009 10,5% dos cearenses possuíam 60 anos ou mais.[6] Em sentido contrário, os jovens de 0-14 anos passaram de 45,7% em 1950 para 28,9% em 2006.[124]
Densidade populacional dos municípios do Ceará (2010).
0-25 hab/km²
25-50 hab/km²
50-100 hab/km²
100-150 hab/km²
150-200 hab/km²
200-300 hab/km²
300-400 hab/km²
400-500 hab/km²
> 500 hab/km²
A religião é muito importante para a maior parte da população cearense. O estado é o terceiro mais católico do País, em termos proporcionais, com 86,7% da população seguindo o catolicismo. Em seguida, vêm os protestantes, somando 9,01%; os que não possuem nenhuma religião, com apenas 2,82%; e os fiéis de outras religiões, com 1,34%.[125]
A expectativa de vida do cearense foi de 71,0 anos em 2009, com uma das maiores diferenças do país entre os homens (66,8 anos, 0,1 ano a menos que a média nordestina) e as mulheres (75,4 anos, 1,3 ano a mais que a média nordestina). O valor atual representa uma melhora de 5,3% em relação à de 1999 (67,4 anos). Assim, o estado acompanhou e até superou o aumento geral da esperança de vida do brasileiro, que foi de 4,4% (passando de 70,0 para 73,1 anos no mesmo período). Ainda assim, está muito inferior à maior expectativa de vida do País, que é a do Distrito Federal (75,8 anos).[6]
O Ceará foi o estado que mais diminuiu a mortalidade infantil de 1980 a 2006, atingindo 30,8 por mil a partir da altíssima taxa de 111,5 por mil de 1980. Houve, portanto, uma redução de 72,4%. Ainda assim, o Ceará em 2008 estava acima da taxa de mortalidade nacional de 24,9 por mil. Por outro lado, dentre os estados nordestinos, só perde para o Piauí (29,3 mortes por mil nascimentos). Seu desenvolvimento humano, contudo, ainda é muito incipiente, embora tenha gradualmente avançado: de um IDH de 0,604 em 1991, passou a 0,723 em 2005. O componente do IDH que mais avançou foi o da Educação, que passou de 0,604 para 0,808 no mesmo período, sobretudo devido ao grande aumento da matrícula de jovens.[126]
Em 2008, o Ceará atingira índices sociais mais altos que a média do Nordeste em diversos aspectos, como a expectativa de vida, escolaridade média e analfabetismo funcional, e apresentava tendência à diminuição de sua disparidade com relação à média do Brasil, superando já o índice nacional no tocante ao desemprego, ao índice de Gini e à razão entre os 10% mais ricos e os 50% mais pobres da população, denotando uma desigualdade de renda que, outrora maior que a brasileira, tornou-se ligeiramente menor a partir de 2006.[123] Segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) de 2011, o Ceará em 2009 havia se tornado o estado com mais alto desenvolvimento da Região Nordeste e o 12º do Brasil, com índice 0,7129.[127]
Ceará (Estimativas para 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)[128] |
Municípios mais populosos do |||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
![]() Fortaleza ![]() Caucaia |
|||||||||||
Posição | Localidade | Pop. | Posição | Localidade | Pop. | Juazeiro do Norte ![]() Maracanaú |
|||||
1 | Fortaleza | 2 571 896 | 11 | Pacatuba | 79 077 | ||||||
2 | Caucaia | 349 526 | 12 | Aquiraz | 76 967 | ||||||
3 | Juazeiro do Norte | 263 704 | 13 | Canindé | 76 724 | ||||||
4 | Maracanaú | 219 749 | 14 | Quixeramobim | 76 386 | ||||||
5 | Sobral | 201 756 | 15 | Russas | 74 243 | ||||||
6 | Crato | 127 657 | 16 | Crateús | 74 188 | ||||||
7 | Itapipoca | 123 613 | 17 | Aracati | 72 900 | ||||||
8 | Maranguape | 122 020 | 18 | Tianguá | 72 882 | ||||||
9 | Iguatu | 100 733 | 19 | Cascavel | 72 877 | ||||||
10 | Quixadá | 84 684 | 20 | Pacajus | 67 668 |
Etnias
Mapa indicando a presença indígena contemporânea no Ceará.
Etnias Indígenas | Pessoas[129] |
---|---|
Tremembé | 3024 |
Anacé | 1282 |
Tapeba | 6439 |
Pitaguary | 3857 |
Jenipapo-Kanindé | 303 |
Kanindé | 713 |
Kariri | 116 |
Tupinambá | 40 |
Potiguara | 3531 |
Tabajara | 2982 |
Kalabaça | 229 |
Tubiba-Tapuia | 105 |
Gavião | 60 |
Total | 22579 |
Em 1864, havia apenas 36 mil cearenses escravos; número que, em 1887, reduzira-se para apenas 108 dentro de uma população que, já em 1872, era composta por 721 686 habitantes.[132] Em 1813, os escravos representavam 11,5% dos cearenses, dos quais 63% eram negros.[133] Ao fazer comparação com estados escravistas próximos, constata-se quão pouco importante era a escravidão na sociedade do Ceará: em 1864, Pernambuco tinha 260 mil escravos, permanecendo ainda com 41 122 em 1887; e a Bahia, 300 mil escravos em 1864 e 76 838 escravos restantes em 1887.[134]
A constituição étnica do povo cearense remonta a muitos séculos. O censo de 1813 mostrava uma configuração já tendente à atual, com predominância de pardos: 28% de brancos, 6% de indígenas, 16% de negros e 50% de pardos.[133] Assim, predominam os mestiços, descendentes, em sua maior parte, de brancos e índios, mulatos e caboclos que viviam como vaqueiros, moradores de fazendas, pescadores, dentre outros. Os brancos, em sua grande maioria, descendem de portugueses, com contribuição de holandeses, espanhóis, sírio-libaneses (estimam-se 5 mil descendentes no Estado [135]) e outros, mas grande parcela dos brancos também possui ancestralidade multiétnica, como acontece em todo o Brasil.
Cor/Raça | Porcentagem[136] |
---|---|
Brancos | 33,05% |
Negros | 3,03% |
Pardos | 63,39% |
O Ceará tem, atualmente, quinze etnias indígenas nativas reconhecidas. A população estimada dessas etnias é de 22 500 índios, de acordo com dados do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará (FUNASA). No Ceará, muitas pessoas desconheciam a existência dos índios, pois políticas oficiais, durante muito tempo, obrigaram os indígenas a esconderam sua identidade. Um decreto da Assembleia Provincial do Ceará, datado de 1863, declarou que não havia índios na província.[138] À época, eles passaram a ser desacreditados, perseguidos e tiveram suas terras invadidas. Somente na década de 1980, os índios cearenses começaram a reivindicar seus direitos de posse de terra e começaram a ter o reconhecimento de suas etnias.
Política
Ver também: Lista de governadores do Ceará e Lista de deputados estaduais do Ceará da 27ª legislatura
Mausoléu Presidente Castelo Branco, parte integrante do complexo onde está localizado o Palácio da Abolição, sede do governo do estado.
O Poder Executivo é exercido pelo governador Camilo Santana, eleito em 2014 para o período de quatro anos 2015-2018, além de todas as secretarias de estado, órgãos vinculados e a administração indireta. Exemplos de órgãos que integram essa administração são as secretarias da Ciência e Tecnologia, de Educação e da Fazenda, e ainda o Departamento de Edificações e Rodovias. A administração indireta é feita por autarquias, empresas públicas e fundações, tais como a Escola de Saúde Pública do Ceará, a Companhia Energética do Ceará, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará e a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico.[139]
O Poder Legislativo é exercido pela Assembleia Legislativa do Ceará, que é composta por 46 deputados.[140] O legislativo estadual fiscaliza as contas públicas do executivo, bem como aprova e regula todas as leis com jurisdição no território do Ceará. A TV Assembleia é um órgão de comunicação da assembleia do Ceará, que divulga as ações desta instituição. Na função de fiscal das atividades do poder executivo, a assembleia do Ceará é auxiliada por dois tribunais de contas, o Tribunal de Contas do Estado do Ceará, fiscal do governo estadual, e Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará, fiscal das prefeituras, que também auxilia as câmaras municipais nessa tarefa.[141]
O Judiciário cearense tem como instância máxima o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, composto por 27 desembargadores.[142] O Fórum Clóvis Beviláqua, da comarca de Fortaleza, é o maior fórum subordinado ao Tribunal cearense. Atualmente, 139 municípios são sedes de comarca, sendo 45 vinculadas, 49 de primeira entrância, 40 de segunda entrância, 49 de terceira entrância e Fortaleza, que é uma comarca especial. O Ministério Público do Estado do Ceará é a instituição que, de forma autônoma, auxilia o estado na garantia da justiça e do direito.
O sistema correcional cearense é composto por quatro penitenciárias, dois presídios, duas colônias agrícolas, uma casa de albergado, duas casas de custódia, dois hospitais, e 131 cadeias públicas. Este sistema estava abrigando, em 2008, um contingente total de 8.101 [143] pessoas. A maior unidade prisional do sistema é o Instituto Penal Paulo Sarasate, que abrigava 940 [143] pessoas em 2008.
Subdivisões
O Ceará surgiu como unidade administrativa em 1799 com quatorze municípios, sendo o mais antigo, Aquiraz, fundado em 1699, e o último desse período foi Guaraciaba do Norte criado em 1791.[144] Com a Independência do Brasil as províncias foram organizadas em 1823 e nesse ano o território já estava dividido em mais quatro cidades. Durante todo o período imperial do Brasil foram criadas mais 44 cidades desmembrando-se vilas das já então existentes. Em pouco mais de um século o estado passou de 62 para 184 municípioss que, a partir da constituição de 1988, passaram a serem unidades constitutivas da união em patamar igual aos estados.O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística dividiu o território cearense em sete mesorregiões e estas em 33 microrregiões constituindo-se basicamente em divisões estatísticas. O Governo do Ceará dividiu o estado em oito macrorregiões de desenvolvimento e em vinte regiões administrativas.[145]
Existem ainda duas regiões metropolitanas no estado: a Região Metropolitana do Cariri (RMC) e a de Fortaleza (RMF). A primeira foi criada pela Lei Complementar Estadual nº 78, sancionada pelo governador Cid Gomes em 29 de junho de 2009 e é formada por nove municípios do sul cearense: Barbalha, Caririaçu, Crato, Farias Brito, Várzea Alegre, Jardim, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri.[146] Já a Região Metropolitana de Fortaleza, onde se localiza a capital, foi criada pela Lei Complementar Federal nº 14, de 8 de junho de 1973, que instituía, também, outras regiões metropolitanas no país; inicialmente, a região metropolitana era formada por apenas cinco municípios: Fortaleza, Caucaia, Maranguape, Pacatuba e Aquiraz, sendo, posteriormente, adicionado os municípios de Maracanaú (1983); Eusébio (1987); Itaitinga e Guaiuba (1992); Chorozinho, Pacajus, Horizonte e São Gonçalo do Amarante (1992); Pindoretama e Cascavel (2009);[147] Paracuru, Paraipaba, Trairi e São Luís do Curu (2014).[148]
Litígio territorial

Ceará de 1861, sem Crateús e Independência.
Desde essa época, persistem na divisa do Ceará com o Piauí vários pontos com indefinições de seus limites.[150] A área total em disputa seria de aproximadamente 3 000 km², o que equivale ao dobro da área do município de São Paulo. Depois da Constituição de 1988, foi proposto que, em 1991, seriam resolvidas as questões de limites entre os estados, mas somente em 2008 um acordo foi apresentado. O acordo, no entanto, não foi concretizado, pois o Piauí abandonou as negociações. Diversas propostas surgiram como tentativa de resolução do litígio, entre elas a de um plebiscito.[151] Segundo estudo do IBGE, a maior parte do território, cerca de 75%, pertenceria ao Ceará, porém, o governo piauiense não aceitou as conclusões do instituto. O processo foi, então, encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, que ficou encarregado de dar fim ao caso centenário.
Economia

Evolução do PIB (R$) | ||
---|---|---|
Ano | PIB (R$ 1.000) | Per Capita |
2006 | R$ 46.303.000 | 5.634 |
2007 | R$ 50.331.383 | 6.149 |
2008 | R$ 60.099.000 | 7.112 |
2009 | R$ 65.704.000 | 7.686 |
2010 | R$ 77.865.000 | 9.216 |
2011 | R$ 87.982.450 | 10.314 |
2012 | R$ 90.131.724 | 10.473 |
2013 | R$ 103.400.000* | 11.950* |
2014 | R$ 115.230.000* | 13.556* |
2015 | R$ 127.250.000* | 14.970* |
2016 | R$ 140.960.000* | 16.583* |
*Estimativa |
Os cinco municípios com PIB per capita mais altos no Ceará são: Eusébio (R$ 23.205), Horizonte (R$ 15.947), Maracanaú (R$ 15.620), São Gonçalo do Amarante (R$ 14.440) e Fortaleza (R$ 11.461), todos muito acima da média estadual, que é de R$ 7.112. Os dez municípios de maior PIB abrangem 67,86% do PIB total.[152]
A partir da década de 1960 houve uma progressiva industrialização e urbanização, que ganhou impulso a partir da década de 1980, em parte devido à política de concessão de benefícios fiscais a empresas que se instalassem no estado.[153] Atualmente, embora sendo ainda uma economia sub-industrializada em relação a vários outros estados do Brasil, a economia cearense não é mais baseada sobretudo nas atividades agropecuárias, sendo preponderante o setor terciário de comércio e serviços, com grande destaque para o turismo. Apesar disso, aquelas ainda possuem grande relevância na economia do estado, em especial a pecuária, mas há também crescente importância de cultivos não-tradicionais no estado, como a produção de frutas e legumes no Vale do Rio Jaguaribe e de flores na Serra da Ibiapaba e no Cariri.
Desde 2004 a economia cearense vem crescendo, moderada, mas sustentadamente, entre 3,5% e 5% ao ano.[154] Em 2007 o crescimento foi de 4,4%, e em 2008 de 6,5%, sendo o primeiro inferior à média brasileira para aquele ano e o segundo bastante superior, principalmente devido à forte recuperação da agropecuária cearense (24,59%) aliada à manutenção em níveis altos do crescimento da indústria (5,51%) e do setor de serviços (5,21%).[155]
Exportações do Ceará - (2012).[156]
Em 2011, a economia cearense continuou a crescer acima da média nacional. O PIB cearense totalizou 84 bilhões, um aumento de 10 bilhões se comparado ao ano anterior, segundo dados preliminares do IPECE.[158] Neste ano, o estado pode ter, pela primeira vez, um PIB per capita acima de R$ 10.000.
O instituto também citou expectativas para a economia em 2012, onde possivelmente, crescerá entre 5% e 5,5%, ainda acima da média nacional. O PIB cearense deve totalizar, ao final do ano, um valor em cerca de 96 bilhões. Para 2013 está previsto que o PIB ultrapassará os 100 bilhões de reais, com o PIB per capita chegando próximo dos 14.000 reais. Quanto a sua pauta de exportações, foi, em 2012, baseada em Calçados de Borracha (17,32%), Couro Preparado de Bovinos ou Equinos (14,60%), Coco, Castanha e Caju (11,73%), Melões (7,00%) e Calçados de Couro (6,86%).[156]
Setor primário
A castanha de caju é um dos principais produtos agrícolas do Ceará.
Na pecuária os rebanhos de maior representatividade são: bovinos, suínos, caprinos, eqüinos, aves, asininos, carcinicultura e ovinos.[160]
Os principais recursos minerais extraídos do solo cearense são: ferro, água mineral, calcário, argila, magnésio, granito, petróleo, gás natural, sal marinho, grafita, gipsita, urânio bruto. O município de Santa Quitéria, na localidade de Itataia, possui uma das maiores reservas de urânio do Brasil.[161]
Setor secundário
J Macêdo, uma das maiores indústrias de massas do Brasil.
Quase metade da economia cearense se concentra na capital. Na foto, a Avenida Santos Dumont.
A Federação das Indústrias do Estado do Ceará é a entidade sindical dos donos das empresas. A entidade congrega a maioria dos donos e dirigentes industriais. Algumas das grandes empresas do Ceará com alcance nacional vinculadas a FIEC são: Aço Cearense, Companhia de Alimentos do Nordeste, Grendene, Café Santa Clara, Grande Moinho Cearense, Grupo Edson Queiroz, Indústria Naval do Ceará, J. Macêdo, M. Dias Branco, Troller e Ypióca.[163]
Setor terciário
O comércio é muito marcante na economia do Ceará compondo o PIB do estado com mais de 70%.[152] A Associação Comercial do Ceará foi a primeira instituição classista cearense, fundada em 1866. Atualmente a principal instituição comercial no estado é a Federação do Comércio do Estado do Ceará (Fecomercio). Algumas redes de comércio varejista filiadas a Fecomercio com destaque no nacional são Rede de Farmácias Pague Menos, Vignoli, Cocobambu.Em 2009 foi iniciada a construção da segunda central de abastecimento do estado que ficará na região do Cariri e complementará a distribuição de alimentos juntamente com a Ceasa da RMF.[164] Complementando a atividade comercial da Ceasa, todas as cidades mantêm mercados municipais.
Em Fortaleza existem vários shopping centers: Iguatemi Fortaleza, North Shopping, Shopping Aldeota, Shopping Benfica, Shopping Center Um, Shopping Del Paseo e Shopping Via Sul. Além desses, somente outros três shoppings ficam fora da capital: o Maracanau Shopping Center, que fica em Maracanaú; o North Shopping Sobral, que fica em Sobral; e o Cariri Shopping, que fica em Juazeiro do Norte.[165]
Turismo
Aracati, um dos municípios cearenses com maior apelo turístico.
Ver também: Lista do patrimônio histórico no Ceará
O Ceará é um dos estados com maior faixa litorânea, e vem dessa
grande extensão boa parte de sua fama turística. As praias de maior
destaque são: Jericoacoara (incluindo Lagoa Azul e Lagoa do Paraíso), Praia do Futuro, Canoa Quebrada, Cumbuco, Praia de Flecheiras, Praia de Morro Branco, Praia de Ponta Grossa, Praia de Tatajuba, Lagoinha, Porto das Dunas, na qual está o Beach Park, um dos maiores parques temáticos da América Latina,[166] dentre outras.Outras atrações destacáveis são: Arquivo Público do Estado do Ceará, Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, Casa de Juvenal Galeno, Centro Cultural Bom Jardim, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho, Sobrado do Doutor José Lourenço, Academia Cearense de Letras, Instituto do Ceará, Instituto Cultural do Cariri, Museu dos Inhamuns, Academia Sobralense de Estudos e Letras.[169]
Infraestrutura
Ciência e tecnologia

Imagem aérea de Sobral com vista para a Igreja do Patrocínio e o Museu do Eclipse, importante museu científico do Ceará.
O principal espaço de desenvolvimento científico do estado é o Campus do Pici, em Fortaleza, abrigando boa parte dos laboratórios da Universidade Federal do Ceará e outras instituições como o Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho no Nordeste e a sede da rede GigaFOR e vários cursos de pós-graduação. Em todo o estado são ofertados 154 cursos de pós-graduação sendo 103 de mestrado e 51 de doutorado.[171]
Fóssil do Anhanguera no North American Museum of Ancient Life.
Em 2009, Ano Internacional da Astronomia, o Ceará passou e integrar a Rede Internacional de Centros para Astrofísica Relativística (Icranet). Essa integração visa orientar os cursos de graduação em física das universidades UVA e UECE, respectivamente em Sobral e Fortaleza, para estudos nas áreas de astrofísica, astronomia e criar um programa de pós-graduação específico na UECE.[173]
O primeiro registro de fósseis no Brasil se deu com o livro "Viagem pelo Brasil" (Reise in Brasilien), publicado entre 1823 e 1831, relatando a descoberta de um peixe Rhacolepis na atual cidade de Jardim.[174] A bacia sedimentar da Chapada do Araripe conta com uma formação muito rica em fósseis da flora e fauna do Cretáceo, boa parte em excelente estado de preservação, sobretudo na cidade de Santana do Cariri.[175] Os fósseis da região tem sido importantes para comprovar a deriva dos continentes africano e sul-americano.[176]
Nessa área foi estabelecido o Geoparque Araripe, o primeiro do gênero no Hemisfério Sul, visando a proteger sua significativa importância geológica e paleontológica.[176] O trecho mais importante do geoparque é a Formação Santana, que se destaca por conter os primeiros registros de tecidos moles (não ósseos) de pterossauros e tiranossauros do mundo, as primeiras fanerógamas fósseis da América do Sul e várias espécies de peixes fossilizados.[174] Na cidade de Santana do Cariri existe o Museu de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri que ajuda no estudo e divulgação científica paleontológica.
Educação

Fachada do Colégio Militar de Fortaleza, principal instituição pública de ensino fundamental e médio do estado.
Biblioteca pública de Sobral.
Quanto ao índice de desenvolvimento da educação básica (IDEB), o Estado obteve, em 2009, as melhores notas da Região Nordeste em todas as categorias: para alunos da 4ª e 5ª séries do ensino fundamental, 4,4 (11ª mais alta no ranking nacional), para os da 8ª e 9ª séries, a nota 3,9 (10ª melhor do País) e para alunos do 3º ano do ensino médio, 3,6 (8ª melhor brasileira).[183]
A rede de ensino do estado no ano de 2012 era composta por 14.071 escolas, das quais 6.320 eram pré-escolares, 6.847 de ensino fundamental e 904 de ensino médio. Estas escolas receberam, ainda em 2012, 2.030.969 matriculas, das quais 248.126 foram no pré-escolar, 1.376.276 no fundamental e 406.567 no ensino médio. Servindo a rede, havia 95.886 docentes, dos quais 14.594 lecionavam no pré-escolar, 62.236 no fundamental e 19.056 no ensino médio.[184]
Em 2005, o Ceará abrigava 47 instituições de ensino superior, com 6.797 docentes e 99.597 alunos matriculados.[185] A Universidade Federal do Ceará foi a primeira do estado, fundada em 1954.[186] Atualmente, as mais importantes são a Universidade Federal do Ceará, a Universidade Estadual do Ceará, a Universidade Regional do Cariri, a Universidade Estadual Vale do Acaraú, a Universidade Federal de Integração Luso-Afrobrasileira, a Universidade Federal do Cariri e a particular Universidade de Fortaleza.
Energia
O estado era, até o final do século XX, totalmente desprovido de grandes unidades geradoras de energia.[187] Na década de 2000 foram feitos investimentos pesados na geração de energia eólica com a possibilidade de o Ceará gerar toda sua demanda energética em seu próprio solo.[188]Atualmente, a maior parte da demanda de energia elétrica é suprida pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco [187] por meio da geração nas usinas hidrelétricas de Paulo Afonso, Xingó, Sobradinho, Itaparica e Moxotó. O Ceará também é servido pela energia gerada na Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará.
A Companhia Energética do Ceará é a empresa responsável pela distribuição da energia no estado. O consumo médio do estado gira em torno de 650 gigawatts por mês.[189] Em 2007, 99,3% dos domicílios urbanos e 90,4% dos domicílios rurais eram servidos pela rede de distribuição elétrica, contabilizando 2.688.746 clientes.[190]
O estado é o maior produtor de energia eólica do país,[191] além de possuir a melhor produção mundial.[192]
Mídia
Os jornais foram a primeira mídia de massa do estado. O primeiro jornal cearense, o Diário Oficial, começou a ser publicado em 1825. No final do século XIX, havia centenas de jornais e publicações periódicas em todo o território, com mensagens de cunho político e social. Em 1881, chegaram à costa cearense os cabos submarinos da The Western Telegraph Company, interligando o Brasil à Europa por meio telegráfico.[193] Estes cabos foram interligados aos já existentes no Ceará e daí para o resto do país.A primeira estação de rádio surgiu na década de 1930. Era uma entidade de rádio amador chamada Ceará Rádio Clube.[194] Em 1959, entrou no ar a TV Ceará, primeiro canal de televisão do Ceará. Em 31 de março de 1972, chegou a vez da tv a cores no estado. Em 2009, teve início a transmissão do sinal de televisão digital. Atualmente, o sistema de rádio e televisão conta com 143 emissoras de rádio e 13 de televisão.[190] Os principais jornais do estado são: O Povo, Diário do Nordeste e O Estado.
A telefonia iniciou-se no Ceará, primeiro em Fortaleza, em 1891 com a fundação da empresa telefônica do Ceará. Em 1938, o serviço passou a ser automático, com a instalação de equipamentos da Ericsson do Brasil. A Companhia Telefônica do Ceará surgiu em 1971 e foi privatizada em 1998. Atualmente, existem 2.490.224 linhas telefônicas no estado.[190]
Saúde

Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, primeiro hospital público construído na capital cearense, em 1861.
Os principais hospitais públicos do estado estão concentrados na Capital. Atualmente o sistema de saúde pública cearense é composto por hospitais municipais e estaduais, totalizando 164 unidades hospitalares com internação e 2.198 sem internação.[196] O Hospital Geral de Fortaleza é o maior hospital público. O Instituto Doutor José Frota é o maior hospital de emergência. Dois hospitais de grande porte serão construídos durante o atual governo do estado nas regiões do Cariri e Sobral para diminuir a superlotação do sistema de saúde cearense.[197] O sistema também é composto por centenas de postos de saúde e centenas de equipes do Programa de Saúde da Família em quase todos os municípios. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência está sendo implantado em todas as regiões do Ceará. O atendimento médico privado é bastante desenvolvido com um total de 127 hospitais, destacando-se os hospitais São Mateus, Antônio Prudente, Unimed, Monte Klinikum.[196]
Há grande disparidade no acesso a médicos e a leitos hospitalares. Os municípios com mais médicos por mil habitantes são Barbalha (3,6 por mil), Guaramiranga (2,6) e Aracoiaba (2,3) — Fortaleza é a 9ª com mais médicos em termos proporcionais (1,5 por mil) —, enquanto os que possuem menos são Varjota, Granja e Pires Ferreira, todos com apenas 0,2 médico por mil. Barbalha também se destaca como a cidade com mais leitos por mil habitantes (8,1), seguida por Brejo Santo (6,0), Jati (5,9) e Crato (5,4), enquanto as que apresentam menos leitos possuem índices muito menores: Forquilha (0,1), Pacatuba (0,3) e Beberibe (0,5).[122]
Segurança pública
Veículos do programa de policiamento comunitário em Fortaleza, o "Ronda do Quarteirão".
A Polícia Militar do Ceará tem um contingente de aproximadamente 13 mil policiais [199] divididos em sete batalhões, um batalhão de choque, um batalhão de segurança patrimonial, um esquadrão de polícia montada, uma companhia de polícia rodoviária, um centro integrado de operações aéreas, uma companhia de polícia do meio ambiente, um pelotão de motos e a unidade de polícia de turismo. O efetivo da Polícia Civil é de aproximadamente 2.200 [200] policiais distribuídos em 34 distritos policiais, oito delegacias metropolitanas, 19 delegacias regionais, 23 delegacias municipais e 18 delegacias especializadas. O Corpo de Bombeiros Militares é composto pelo efetivos de aproximadamente 1.400 bombeiros [201] distribuídos em 5 grupamentos, um em Fortaleza com onze seções de comando e os outros quatro no interior subordinando 13 seções.
A criminalidade é um problema crescente no estado. A taxa de homicídio foi de 24,0 por 100 mil habitantes em 2008, um expressivo aumento de 79,1% comparado à taxa de 13,4 por 100 mil em 1998. Em função do aumento ainda maior do número de assassinatos em outras Unidades Federativas, o Ceará possui a 18ª maior taxa de homicídios do Brasil, enquanto, em 1998, estava na 17ª posição. Por sua vez, Fortaleza, com 35,9 homicídios por cem mil habitantes, passou do 20ª para o 17ª lugar entre as capitais mais violentas do País, porém continua bastante abaixo da média das capitais do Nordeste.[202] O Ceará possui 7 de seus 184 municípios entre os 500 com maiores taxas de homicídio do Brasil.[203]
Em 2007, foi implantado em Fortaleza o Ronda do Quarteirão, programa de segurança pública do Governo do estado que tem por objetivo diminuir o tempo de resposta a ocorrências policiais. Em 2008, o programa foi expandido para Caucaia e Maracanaú e, em seguida, para vários municípios interioranos. Neste mesmo ano foi criada a polícia científica do estado, Perícia Forense do Estado do Ceará que atuará em sua área de forma autônoma e desvinculada de outras forças policiais. Apesar dos esforços, o combate à violência não tem surtido efeito somente com ações policiais, e a criminalidade ainda é crescente.[204] Somente entre 2008 e 2009, houve um alarmante aumento da taxa total de roubos, que mais que triplicou de 219,8 para 772,0 por 100 mil habitantes, bem como um aumento do número de estupros (de 6,9 para 7,8 por 100 mil). A taxa de homicídios cresce, lenta mas preocupantemente, de 22,2 para 22,5 por 100 mil entre 2008 e 2009.[205]
Transporte
Mapa dos transportes do Ceará.
O sistema ferroviário do estado é operado em conjunto com a malha do Nordeste pela empresa Transnordestina Logística S.A, que está construindo a ferrovia Transnordestina. O estado é cortado por 1.431 km de caminhos de ferro interligando o estado de norte a sul e de leste a oeste entre a capital e o interior.[208] Ainda no transporte ferroviário existem dois sistemas de metrô em construção. O Metrofor é o metrô de Fortaleza interligando vários bairros da cidade e também as cidades de Maracanaú e Caucaia e o Metrô do Cariri que interligará as cidades do Crato e Juazeiro do Norte.
Ao longo dos 570 km de litoral do Ceará estão instalados 13 faróis em pontos estratégicos para auxiliar a navegação de cabotagem, sendo controlados pela Capitania dos Portos do Ceará.[209] Os principais portos do estado são: o Porto do Mucuripe, em Fortaleza, que é administrado pelo governo federal e o Terminal Portuário do Pecém, inaugurado em 2002, construído para estruturar o Complexo Industrial e Portuário do Pecém com planejamento de terminal para uso siderúrgico e de refinaria de petróleo.
Em Fortaleza tem início a rodovia federal mais importante do Brasil, a BR-116, que liga a capital do Ceará às regiões Sudeste e Sul do país até o Rio Grande do Sul. Em Fortaleza também tem início a BR-222 que faz ligação com a região Norte indo até o Pará. A BR-020 faz a ligação de Brasília com Fortaleza. A rodovia BR-230 Transamazônica corta o estado na região sul e a BR-304 liga o Ceará ao Rio Grande do Norte. As rodovias estaduais somam um total de 10.657,9 km, sendo 5.767,6 km pavimentados e 4.890,3 não-pavimentados. A extensão total da malha rodoviária, incluindo rodovias municipais, estaduais e federais, é de 53.325,4, segundo o Departamento de Edificações e Rodovias do Ceará.[210] Todas as sedes dos municípios têm acesso por estradas pavimentadas.[211] Atualmente o sistema encontra-se com algumas estradas danificadas em decorrência de fortes chuvas,[212] mas a maioria das rodovias apresenta boa condição de trafegabilidade.[213][214]
Cultura
O governo do Ceará criou a primeira secretaria estadual de cultura do Brasil, em 1966.[215] A instituição organiza e fomenta a cultura cearense e auxilia outras instituições particulares na manutenção das tradições da população do estado.Arte popular
A jangada é um dos principais símbolos do Ceará. Fruto do trabalho
artesanal, elas representam a "tenacidade" e o "espírito nômade".[14]
Com origens portuguesas e relevante influência indígena, têm destaque a produção de redes com os mais diversos bordados e formas e intrincadas rendas feitas em bilros, talvez o maior destaque da produção artesanal cearense, sendo uma arte tradicional no Ceará desde meados do século XVIII.[218] As rendas e os labirintos possuem maior destaque nas imediações do litoral, enquanto o interior se destaca mais pelos bordados.[216] As pedras semipreciosas também são exploradas na confecção de jóias, sobretudo em Juazeiro do Norte, Quixadá e Quixeramobim.
Guaramiranga, cidade serrana do Maciço de Baturité, é, pelo seu clima frio e agitada cena cultural e artística, um importante centro turístico do estado.
Em diversas áreas do interior cearense, os cordéis, assim como os repentistas e poetas populares, especialistas no improviso de rimas, ainda estão presentes e ativos, seguindo uma tradição que remonta aos trovadores e poetas populares da Idade Média lusitana. Outra forte influência portuguesa se encontra na grande importância das festas religiosas nas cidades de todo o interior, particularmente as festas de padroeiros, que estão entre as principais festividades da cultura cearense, abarcando não só cerimônias religiosas, mas também de dança, musicais e outras formas de entretenimento, numa complexa mistura de aspectos sagrados e profanos. Destaca-se a Festa de Santo Antônio em Barbalha, famosa pelo pau da bandeira, que é comemorada nessa forma há 78 anos.[219]
Artes plásticas
Centro Cultural Banco do Nordeste, na cidade de Juazeiro do Norte.
Na segunda metade do século XX, o suíço Jean-Pierre Chabloz, em passagem pelo Ceará, descobriu a arte do acreano de origem cearense Chico da Silva no Pirambu, retratando figuras primitivas de dragões e outros animais com carvão e tinta guache. Seu estilo foi classificado como arte naïf e teve grande destaque até a década de 1980. No final do século XX, o pintor Leonilson foi o maior destaque cearense na pintura.[221] Contemporaneamente,outros nomes tem se destacado, como Roberto Galvão e Bruno Pedrosa, dentre outros.
Humor
O Ceará se tornou conhecido nacionalmente como berço de talentos humorísticos como Chico Anysio, Renato Aragão, Tom Cavalcante e Tiririca, dentre vários outros. Embora a percepção de que há um Ceará moleque como verdadeira identidade do povo cearense seja controversa, a história do estado é repleta de casos verídicos e curiosos que parecem corroborar com essa ideia. Destacam-se, sobretudo, figuras populares como o Bode Ioiô, que era famoso em Fortaleza e inclusive foi eleito vereador da cidade, e o Seu Lunga, de Juazeiro do Norte, famoso pela sua intolerância com perguntas óbvias, assim como eventos como a vaia ao sol, também em Fortaleza, depois de quase um dia inteiro de céu nublado na cidade.[222] A novela humorística da Record, Ceará contra 007, de 1965, ajudou a formar esse imaginário de um Ceará Moleque.Literatura
José de Alencar, o mais famoso escritor cearense e principal nome do Romantismo Brasileiro.
Teatro José de Alencar, patrimônio nacional.
A literatura cearense foi sempre caracterizada por florescer em torno de grupos literários. O primeiro desses grupos de desenvolvimento literário foi Os Oiteiros, que, embora mantendo os padrões típicos do Arcadismo, soube encontrar uma cor local para descrever o fugere urbem e o carpe diem típicos daquela escola.[223]
No final do século XIX, surgiu a Padaria Espiritual, uma agremiação cultural formada por jovens escritores, pintores e músicos. Vários autores criticavam as instituições e valores então vigentes com discurso irônico, irreverência, espírito crítico e sincretismo literário.[224] Para alguns críticos literários e historiadores, essa agremiação pode ser considerada um movimento pré-modernista que já apresentava alguns aspectos do Modernismo, que só surgiria com força em São Paulo em 1922. Contemporânea à Padaria Espiritual, a Academia Cearense de Letras foi fundada em 1894 sendo uma das principais instituições literárias do estado, congregando alguns dos nomes mais ilustres da literatura estadual.[225] Hoje, existem diversas instituições similares em todo o Ceará.
O Modernismo se consolidou no Ceará por meio do movimento Clã, fundado nos anos 1940, que congregou diversos escritores renomados cearenses: Moreira Campos, João Clímaco Bezerra, Antônio Girão Barroso, Aluísio Medeiros, Otacílio Collares, Artur Eduardo Benevides, Antônio Martins Filho, Braga Montenegro, Manuel Eduardo Pinheiro Campos, Fran Martins, José Camelo Ponte, José Stênio Lopes, Milton Dias, Lúcia Fernandes Martins e Mozart Soriano Aderaldo.[226]
Na década de 1970, surgiram outros dois importantes grupos literários no Ceará: O Saco, uma revista artística inusitada, pois era distribuída com folhas soltas guardadas dentro de um saco; e o Grupo Siriará, que reuniu diversos jovens escritores, propondo uma literatura cearense autêntica e desvinculada dos estereótipos que se estabeleceram na retratação literária do ambiente cearense.[227]
O Ceará também possui escritores pós-modernistas renomados, embora, em sua maior parte, pouco conhecidos. Podem-se citar, dentre eles, Pedro Salgueiro, Natércia Campos, Dimas Carvalho, Airton Monte, Tércia Montenegro, Raymundo Netto, Vicente Freitas, Soares Feitosa, dentre outros.[228]
A literatura de cordel tem destaque nas letras cearenses desenvolvendo-se expressivamente em Juazeiro do Norte, desde as primeiras décadas do século XX. Em Fortaleza, a Literatura de Cordel surgiu no período da Oligarquia de Nogueira Accioly, período esse em que circularam alguns folhetos destratando a figura do governador cearense. Patativa do Assaré é um dos maiores destaques nesse tipo de literatura.[229]
Música
O gênero musical mais identificado com o Ceará é o forró, em suas variadas formas, notadamente o tradicional forró pé-de-serra. Nos anos 1940, o cearense Humberto Teixeira formou uma famosa parceria com o pernambucano Luiz Gonzaga, criando o baião, que se tornou muito apreciado.[230] Uma das principais tradições da música cearense - e, principalmente, do Cariri - são também as bandas cabaçais, que utilizam pífanos, zabumbas e pratos e frequentemente fazem acompanhar sua música com movimentos e acrobacias com facões, com destaque para a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto. Outros representantes tradicionais da música cearense são os seresteiros e repentistas.Dos anos 1980 em diante, cresceu bastante o chamado forró eletrônico, que adotou novos instrumentos e absorveu muitas influências de diversos estilos populares, afastando-se um pouco da tradição do "pé-de-serra" e ganhando grande popularidade no estado.[231]
O importante momento musical dos anos 1960, no qual floresceram a MPB e o tropicalismo no Brasil, também teve grande influência no Ceará, onde se revelaram artistas como Ednardo, Belchior, Fagner, Amelinha, J. Camelo Ponte e outros, alguns dos quais conseguiram projeção nacional, recebendo da crítica musical o apelido de "pessoal do Ceará".[230]
Inusitadamente, o Ceará tem também tido certo destaque na música clássica brasileira, embora aí não encontre grandes incentivos. Um dos mais destacados compositores clássicos brasileiros foi o cearense Alberto Nepomuceno, considerado o "pai" do nacionalismo na música erudita do Brasil,[232] que em Fortaleza batiza o Conservatório de Música Alberto Nepomuceno. Outro representante da música clássica foi o renomado regente Eleazar de Carvalho, um dos fundadores da Orquestra Sinfônica Brasileira e professor de maestros célebres, como Claudio Abbado e Zubin Mehta.[233] Em sua homenagem foi criada a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho. Nessa seara, há também iniciativas que unem a música à filantropia como a Orquestra Filarmônica da Chapada do Araripe,[234] em Araripe e a Sociedade Lírica do Belmonte,[235] no Crato.
Religião

Durante todo o século XX, várias igrejas se instalaram no Estado e no final desse século houve um aumento considerável de pessoas de outras religiões. Contudo, o Ceará é ainda o segundo estado brasileiro com maior proporção de católicos, 85% da população, segundo dados de 2000.[237] Os evangélicos são 8,2%, os espíritas, 0,4%, os membros de outras religiões, 0,9%, e os sem religião, 3,7%.[238]
O catolicismo tem uma extensa rede de igrejas e organizações religiosas em todo o Ceará. A Província Eclesiástica de Fortaleza, encabeçada pela Arquidiocese de Fortaleza, lidera oito dioceses: Quixadá, Iguatu, Tianguá, Crato, Crateús, Limoeiro do Norte, Sobral e Itapipoca. A Igreja Católica foi uma grande força política no passado, sobretudo até a primeira metade do século XX, época em que organizações católicas influenciaram decisivamente os rumos da política estadual.[239]
A romaria em honra a São Francisco das Chagas, em Canindé,
é considerada a segunda maior romaria do mundo. Cerca de 2,5 milhões de
romeiros franciscanos de todo o país peregrinam até a Basílica de São
Francisco das Chagas e Estátua de São Francisco.
A fé sertaneja, muitas vezes associada ao messianismo e marcada por profunda relação com os santos, rituais e datas religiosas, foi e continua sendo bastante influente na história cearense e nos costumes e festejos cearenses. A cidade de Juazeiro do Norte surgiu de um assentamento que, sob orientação do Padre Cícero, considerado pela fé popular um santo, tornou-se um local de peregrinação religiosa e, nos últimos anos, atrai milhares de crentes de vários locais do Brasil. Outro local de grande peregrinação religiosa no Ceará é a cidade de Canindé que abriga um importante santuário em devoção a São Francisco, considerado o maior das Américas.[241] A cidade possui, ainda, a maior estátua de São Francisco do mundo. O Santuário Nossa Senhora Imaculada Rainha do Sertão, em Quixadá, tem se tornado outro centro de peregrinação católica. Também esta presente na devoção cearense a Festa do Senhor do Bonfim, em Icó, que reúne milhares de fiéis defronte ao Santuário do Senhor do Bonfim.
Maçonaria e Rotary
A maçonaria chegou ao Ceará por meio de personagens ilustres da história. O governador Sampaio foi ativo na luta contra os revolucionários maçons da Revolução Pernambucana de 1817 que alcançaram a província. Alguns destes, notadamente os ligados a família Alencar, foram perseguidos e, em 1824, durante a Confederação do Equador foram presos e executados, como Azevedo Bolão, Feliciano Carapinima, Francisco Ibiapina e Padre Mororó.[43]Consta que José Martiniano de Alencar manteve reuniões da maçonaria em sua residência durante seus governos, mas não foi formalizada a criação de loja maçônica nesse período. A primeira loja maçônica foi a Luz do Aracati, surgida em 1834, em Aracati, do Rito Escocês, subordinada ao Grande Oriente Lusitano.[242] A loja Fraternidade Cearense, criada em 1859, é a mais antiga ainda em funcionamento no estado.[243]
Atualmente existem várias organizações de Obediências Maçônicas no estado, destacando-se a Grande Loja Maçônica do Ceará, fundada em 1928,[244] sendo a primeira do gênero no estado, o Grande Oriente Estadual do Ceará, fundado em 1937,[245] e o Grande Oriente do Ceará, fundado em 1973.[246]
Em 7 de maio de 1934, instala-se, solenemente, no prédio do Palace Hotel, o Rotary Club de Fortaleza, filiado ao Rotary International, em ágape presidido por Lauro Barbosa, que empossou a primeira diretoria, tendo à frente Pedro Philomeno Ferreira Gomes e Raimundo Girão. Na ocasião, foi lançado o primeiro número do Boletim do Rotary Club.[247]
Esporte

Estádio Castelão,
o quarto maior estádio do Brasil, sede da Copa das Confederações FIFA
2013, Copa do Mundo FIFA 2014 e palco de vários shows nacionais e
internacionais.[248]
Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza. Local de grandes disputas e tradicionais clássicos entre os times locais.
O futebol é o esporte mais popular no estado. O Estádio Castelão é um dos maiores do Brasil e abriga os principais jogos do Campeonato Cearense de Futebol. Na capital, os principais clubes são Ceará Sporting Club, Ferroviário Atlético Clube e Fortaleza Esporte Clube. No interior, Guarani Esporte Clube, Guarany Sporting Club e Icasa são os mais bem sucedidos. Com a escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo FIFA de 2014, a cidade de fortaleza sagrou-se como uma das sedes mais bem organizadas do torneio, além de ter sido uma das com maior movimentação turística estrangeira, a partir do esforço conjunto do Governo do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza. No futebol de salão, o Ceará foi destaque durante o início da Taça Brasil de Futsal com o time Sumov Atlético Clube. Em decorrência de sua importância para o esporte, o estado é sede da Confederação Brasileira de Futebol de Salão.[251]
O Ceará foi o primeiro estado do Nordeste a ter um pista de automobilismo [252] com a construção do Autódromo Internacional Virgílio Távora em 1969. Atualmente, abriga provas de várias categorias nacionais e locais tais, como Fórmula Truck, Pick-up Racing, Fórmula 3 e CTM2000. O motociclismo tem seu espaço em várias modalidades, mas as categorias de rali são as mais populares, inclusive no automobilismo, com o Rally dos Sertões, evento que desperta interesse e audiência significativos do povo cearense.[253] Fortaleza é, inclusive, um dos mais tradicionais pontos de chegada do torneio.
No estado se pratica quase todas as modalidades de esportes olímpicos. Recentemente, foram criadas federações de esportes até então pouco populares, como o pentatlo moderno,[254] badminton [255] e ginástica.[256] Alguns dos esportes populares que rendem bons atletas são o vôlei de praia, com os atletas como Franco Neto, Shelda Bede e Márcio Araújo, e o tênis de mesa, com o atleta Thiago Monteiro, o atual campeão brasileiro e pan-americano.[257]
Por ter um extenso litoral, o Ceará também tem destaque em esportes náuticos, como o beach soccer, kitesurf, windsurf, wakeboard, sandboard e surf. Tita Tavares, por exemplo, é uma das maiores surfistas do Brasil. O triatlon e mergulho também são atividades com boa organização e desenvolvimento no estado. Outros esportes de aventura praticados no Ceará são o pára-quedismo, rappel, escalada, trekking, orientação e voo livre. Em Quixadá, cuja geografia é marcada por colinas e inselbergs, a prática de esportes como o rappel e o voo de asa-delta ganharam destaque internacional.[258]
Entre as lutas, vários esportes são notavelmente praticados, destacando-se o wushu, vale-tudo, capoeira e taekwondo. Outras modalidades existentes são o boxe, aikido, hapkido, jiu-Jitsu, judô, karatê, kung fu, luta de braço e wrestling.[251] O tiro esportivo é bem organizado, com vários clubes e atletas.[carece de fontes]
Está localizado em Fortaleza o Centro de Formação Olímpica do Nordeste. Como parte da Rede Nacional de Treinamento do Ministério do Esporte criada como legado dos Jogos Olímpicos de 2016, o centro é responsável pela formação e desenvolvimento esportivo de alto rendimento e, anexo à Arena Castelão, forma o maior complexo esportivo do país, com 313 000 m² dedicados a 26 modalidades olímpicas. Além disso, o centro abriga a maior arena indoor do país, com capacidade para 21 000 pessoas.
Festas e eventos
Canindé, município com renomado turismo religioso.
O Cine Ceará é um dos mais importantes festivais de cinema do Brasil.[261] Acontece em Fortaleza, anualmente, desde 1991, e, desde 2006, o festival recebe produções internacionais.[262]
O Fortal é uma micareta que acontece anualmente desde 1991, sempre no final de julho. Várias outras micaretas menores ocorrem em cidades do interior. Um dos maiores festivais de música pop do Brasil, o Ceará Music, que acontece anualmente desde 2001 reunindo várias bandas nacionais e internacionais.[263]
A maior festa religiosa no Ceará, assim como em grande parte do Nordeste, ocorre em junho, com as festas juninas. Durante esse mês, o forró é o ritmo mais ouvido e tocado em todo o estado [230] e comidas e vestimentas típicas são comuns nas ruas e praças de quase todas as cidades, destacando-se Juazeiro do Norte, com o Juaforró. O carnaval também é outra grande festa, com destaque para as folias organizadas nas cidades litorâneas. Outra grande festa religiosa é o Halleluya que acontece anualmente desde 1995. No setor agropecuário, o evento de destaque no Ceará é a ExpoCrato, considerado o maior evento do gênero no Norte-Nordeste e o quinto maior do país, realizado anualmente em na cidade do Crato.[264]
Os dois principais espaços para realização de feiras, eventos e convenções do Ceará são o Centro de Eventos do Ceará, o segundo maior do Brasil, e o Centro de Convenções Edson Queiroz.[265] O Siará Hall é outro importante espaço de eventos do Ceará.[266]
Ver também
- Lista de municípios do Ceará
- Lista de municípios do Ceará por população
- Unidades federativas do Brasil
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